TRATAMENTO DAS CICATRIZES EM CIRURGIA PLÁSTICA.
- Dr. João Paulo Graciano
- 31 de jan. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 2 de fev. de 2022
Como qualquer outro procedimento cirúrgico, a cirurgia plástica gera cicatrizes. Porém, no caso da cirurgia plástica estética, o cuidado maior é sabermos esconder as cicatrizes da melhor maneira possível, sobre áreas de dobras, áreas de cobertura por vestimentas e áreas escondidas por pelos e cabelos. Temos que cuidar para que seu resultado final seja o mais discreto possível, se aproximando do aspecto do tecido normal. O ideal de uma cirurgia sem cicatrizes, hoje em dia, é uma utopia, mas cada vez mais estamos próximos de cirurgias com cicatrizes pequenas e mais discretas.
A cicatrização é um processo biológico já compreendido mas não totalmente controlado pela medicina. podemos ter processos cicatriciais lentos, com propensão a abertura de ferida (deiscência), e cicatrizes resultantes frágeis. Mas por outro lado, podemos ter pacientes com cicatrização exacerbada, que levam à cicatrizes hipertróficas e o temido queloide (cicatrizes largas, elevadas, dolorosas, pruriginosas e inestéticas).
O processo cicatricial em algumas fases, que levam ao reparo tecidual após agressão pela incisão cirurgia. a fase inicial é a inflamatória, que dura em torno de 7 a 14 dias, onde o tecido inicia o reparo do corte. Nesta fase a força tênsil da cicatriz é pequena, sendo os pontos os principais responsáveis pela força tênsil da cicatriz (força que mantém a cicatriz fechada). A segunda fase é a proliferativa, onde as fibras de colágeno começam a se proliferar e, neste momento, podem se iniciar as cicatrizes patológicas (queloides, cicatrizes hipertróficas). Nesta fase há aumento da força tênsil da cicatriz, e os pontos já não são os principais responsáveis pela adesão das bordas da ferida. esta fase dura do décimo quarto dia até 30 a 60 dias da lesão tecidual. Já na terceira fase, a fase de maturação, as fibras de colágeno começam a se organizar, aumentando a força tênsil da cicatriz, que fica em torno de 80% da força tênsil da pele normal.

Os cuidados com a cicatriz estão divididos em todas estas fases. Inicialmente o cuidado maior, na fase inflamatória, é em evitarmos infecção da ferida, e tomarmos cuidados para diminuirmos a força tênsil dos tecidos sobre a cicatriz (já que esta fase é que a cicatriz tem menos força). É muito comum nesta fase o uso de substâncias antissépticas ( clorexidina e rifamicina) para prevenção de infecção, associados à antibióticos via oral profiláticos, e uso de micropore sobre as cicatrizes cirurgias, para melhor contenção e fechamento das cicatrizes. O uso de cola cirúrgica no intra operatório, além de substituir alguns pontos superficiais, melhora o fechamento da ferida nesta fase da cicatrização, ajuda na prevenção de infecções, além de facilitar os cuidados diários com a cicatriz nas primeiras 3 semanas da cirurgia.
Passado esta fase de 7 a 14 dias, geralmente os cuidados se direcionam para o controle da proliferação cicatricial, e apoio na organização da estrutura de colágeno em formação na cicatriz (fase de proliferação e maturação). Esta é a fase em que se iniciam uso de cremes cicatrizantes e silicone em gel ou fita sobre as cicatrizes. Há vários cremes e pomadas à venda no mercado ou manipulados em farmácias, para controle do processo cicatricial, controle das alteração de coloração, controle de retração ou hipertrofia (aumento) cicatricial. cada caso deve ser avaliado pelo seu cirurgião, para a escolha da melhor substância para cada momento.
Mais tardiamente, após anos da cirurgia, há ainda procedimentos como micropigmentação, realizados por esteticistas, que corrigem a coloração das cicatrizes inestéticas, mimetizando o tecido normal. Há casos ainda em que as cicatrizes, por diversos motivos, necessitam ser refeitas, muitas vezes em procedimentos simples, para melhor posicionamento das mesmas ou para iniciarmos o processo cicatricial de forma mais controlada, evitando formação de queloides ou cicatrizes inestéticas
pré-existentes.
Ainda, menos utilizado, a toxina botulínica pode ter ação benéfica na cicatriz em região de face, causando paralisia parcial e temporária da musculatura, diminuindo força tênsil da cicatriz, e consequentemente melhorando a cicatrização. ainda hoje são estudados alguns efeitos da toxina botulínica sobre a cicatriz, que vão além da diminuição da força tênsil cicatricial pelo relaxamento muscular.
O uso de corticoides também é benéfico para aquelas cicatrizes mais elevadas e com excesso e desorganização do colágeno (caso das cicatrizes hipertróficas e queloides). eles podem ser utilizados sobre a cicatriz, ou injetados dentro da mesma (procedimento conhecido como injeção intralesional). Procedimento que só deve ser indicado e realizado por médico.
Ainda, em casos extremos, de cicatrizes queloideanas que não respondem à nenhum dos tratamentos, podemos indicar recuperação da lesão cicatricial associado a betaterapia ou radioterapia pós operatória, estes são procedimentos de exceção, que deverão se indicados para casos selecionados, em que outras medidas associadas não foram eficazes para controle da lesão.
Enfim, temos várias armas para nos ajudar no tratamento pós operatório das cicatrizes, tanto para melhorar sua qualidade, quanto para corrigir as alterações que porventura ocorram cabe ao paciente obedecer às recomendações de seu cirurgião de maneira adequada para uma evolução satisfatória da sua cicatriz.
Dr. João Paulo Graciano | Cirurgia Plástica | Ribeirão Preto e Região.
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